
Monet- A ponte japonesa
(Imaginem-se dentro deste quadro. Imaginem-se como estando no meu lugar porque enquanto escrevia este texto era dentro dele que estava.)
Este verde inundou a palma da minha mão. Dentro desse verde flutuei entre ir ou ficar. Eu queria sair da ponte, afastar-me decididamente dela, ir para a margem esquerda. No entanto, no meio daquele porto de abrigo, a ponte, eu permaneci.
Sobre aquela ponte um manto invisível permanecia. Era eu que ali estava, sob aquele manto que se erguia sob aquelas águas.
Via os nenúfares que se mexiam com o som do universo. Ouvia-os sussurrar conforme o balancear das águas. Algures entre os nenúfares, o verde, a ponte, o meu "eu", a(s) água(s) situava-se o desejo. A outra margem, a esquerda, queria-me e eu a ela. A margem direita já eu conhecia. A esquerda não.
Quando a este lugar cheguei, pela direita, observar a natureza era tudo o que queria. Agora que aqui permaneci algum tempo, quero mais. Quero ir à outra margem, fazer a passagem, atravessar a ponte e observá-la de longe até a perder de vista.
Porém, para lá do que vejo (do que vemos) o que estará? Poderei eu atravessar os limites do quadro para conhecer a outra margem? Bem, eu entrei no quadro pela margem direita... Acho que isto é resposta suficiente.