Eu e os hospitais não nos damos bem.
Pintura de Frida Khalo
Não sei se é dos corredores mal-iluminados, não sei se é da imensidão de paredes brancas, não sei se é do cheiro a... bem, cheiro a hospital, não sei se é das maquinetas dos quartos ou dos quartos "superpovoados" com o vizinho do lado a perguntar de cinco em cinco minutos o porquê de estar ali ou se a visita que recebemos foi o tio ou a avó...
Tudo isso aliado ao facto de ir visitar pessoas a quem só queremos o melhor e que sabemos estarem a sofrer é também muito perturbador. O hospital é o melhor lugar para ficar quando estamos (gravemente) doentes mas não é o lugar mais confortável do mundo, para além de que estamos longe da nossa família a maior parte do tempo e sujeitos à sua disponibilidade de nos irem visitar ou não...
Resumindo: é por estas e por outras razões que quando lá entro perco o pio. Literalmente. Não consigo falar. É como se entrasse noutra dimensão. No máximo abano a cabeça que sim ou que não e, com muita sorte, consigo libertar um ou dois sorrisos.
O facto de ver aquela pessoa frágil, diferente daquilo a que me habituei a ver deixa-me, também a mim, frágil. E triste. Lembro-me da efemeridade da vida e aqueles ecos que se ouvem nos corredores podem ser o último suspiro de alguém ou a segunda oportunidade de outro.
Quando entro num hospital é como se todas as limitações e as dádivas da vida me inundassem o pensamento e, por longos momentos, fecho-me. Isso irrita-me porque em vez de dar carinho e amor , passo uma imagem fria e distante. Contudo, no fundo, não é isso que quero transparecer. Fico sem pio porque fico nervosa, ansiosa e por mais que tente não consigo fazer muito mais do breves sorrisos. É tão mais forte do que eu.
E vocÊs também perdem o pio uma vez dentro de um hospital para ir visitar alguém que está menos bem?