31/03/11

Uma vez na margem esquerda...


Sabe bem voltar a respirar estes ares. Sabe bem sentir o vosso aconchego. Sabe bem voltar a dar ao dedo.

Nem sabia destas minhas saudades até aqui chegar e receber de volta o vosso piscar de olhos.

Agora que aqui estou (no fundo nunca deixei de estar) será que posso pedir-vos mais uma coisita?

O que é que encontraram para além da ponte, na margem esquerda do quadro? Furem os limites das realidades- a do quadro e a vossa.

(Para quem foi apanhado desprevenido nesta pergunta pode sempre ler o seguinte texto "Migrar")

30/03/11

Migrar


Monet- A ponte japonesa

(Imaginem-se dentro deste quadro. Imaginem-se como estando no meu lugar porque enquanto escrevia este texto era dentro dele que estava.)

Este verde inundou a palma da minha mão. Dentro desse verde flutuei entre ir ou ficar. Eu queria sair da ponte, afastar-me decididamente dela, ir para a margem esquerda. No entanto, no meio daquele porto de abrigo, a ponte, eu permaneci.
Sobre aquela ponte um manto invisível permanecia. Era eu que ali estava, sob aquele manto que se erguia sob aquelas águas.
Via os nenúfares que se mexiam com o som do universo. Ouvia-os sussurrar conforme o balancear das águas. Algures entre os nenúfares, o verde, a ponte, o meu "eu", a(s) água(s) situava-se o desejo. A outra margem, a esquerda, queria-me e eu a ela. A margem direita já eu conhecia. A esquerda não.
Quando a este lugar cheguei, pela direita, observar a natureza era tudo o que queria. Agora que aqui permaneci algum tempo, quero mais. Quero ir à outra margem, fazer a passagem, atravessar a ponte e observá-la de longe até a perder de vista.
Porém, para lá do que vejo (do que vemos) o que estará? Poderei eu atravessar os limites do quadro para conhecer a outra margem? Bem, eu entrei no quadro pela margem direita... Acho que isto é resposta suficiente.

02/03/11

Hiato


Por estes dias fugi.

Tem dias em que se sente que por dentro já não nos corre tamanho fervor que minutos antes nos tinha feito saltar para o desconhecido. Tem dias em que não queremos arriscar porque o medo é maior. Outros dias existem em que não percebemos nada. Corroídos pela dúvida apenas pairamos à espera que tudo mude como que por magia. Impotentes nos sentimos.

Outros dias há em que uma força descomunal nos toma de assalto e parece que podemos conquistar o mundo apenas com um olhar. Sabemos que vamos conseguir alcançar tudo aquilo a que nos propusemos. Sabemos porque bem no fundo algo nos diz que sim. Sabemos que a conquista se tornará fácil porque a confiança é mais que muita.

Contudo, em muitos dias oscilamos. Oscilamos como uma folha seca ao vento. Oscilamos entre a dúvida e a certeza. O medo e a coragem. A força e a fraqueza.

E a vida é bem mais que isto. A vida, se fosse como eu a queria pintar, seria bem mais. Por enquanto faço uns pequenos rabiscos nela. Na esperança (vã ou não, só o tempo o dirá) de que um dia ela vire obra-prima.

É que ultimamente ela, a minha vida, é feita de interrupções. Boas e más. E o blogue não foi excepção à regra.