18/06/10

Chamava-se José e fez-se Saramago


De tantos que deveriam ser poupados à morte Saramago é um deles. Que bom seria se a vida imitasse a arte e que por meio de algum milagre alguém dissesse: “No dia seguinte ninguém morreu.” José Saramago não morreu. Que As Intermitências da Morte fossem tão reais quanto no livro me pareceram. Que pelo menos a Morte se perdesse de amores pela escrita de Saramago e não lhe ceifasse a vida. Não. Ela não quis ou então esse pedido não lhe foi concedido.

Eu que li muitos dos livros de Saramago sinto que a sua perda, apesar de inevitável, parece ser precoce. Sinto que muito ainda tinha para dar. Perdemos. Um génio, um inconformado, um homem polémico, talvez iluminado, um revolucionário, um homem de fortes convicções, um pessimista talvez, um ibérico, um homem que se enraizou no mundo, um cidadão do mundo. Apenas um homem com a força de cem mil homens e mulheres, ou mais.

E se das palavras Saramago possuía a mestria eu deixo aqui um excerto de: As Intermitências da Morte.

“A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu.”

Como eu queria que isto fosse verdade. Que esse dia fosse hoje e Saramago tivesse sido poupado. Se ao menos a vida imitasse a arte.

3 comentários:

  1. Eu acredito sempre que quando alguém parte é porque chegou a sua hora...
    Sem dúvida que é uma grande perda, para a nossa cultura, para o nosso país :(
    Que esteja em paz...

    Beijos

    ResponderEliminar
  2. Gostei do teu post!!
    Também já li muitos livros deles e sinto esta perda precoce, como o dizes e muito bem....

    ResponderEliminar
  3. Bem eu nunca li nada dele. Só tentei uma vez mas nada daquilo me fez sentido e desisti, mas confesso que até tenho uma certa curiosidade :)

    ResponderEliminar